Se vocês lembram do conteúdo que publicamos aqui no blog, tivemos a oportunidade de participar da primeira edição da Gamescom Latam em 2024, sediada em parte do pavilhão da São Paulo Expo, na cidade de São Paulo. O evento que aconteceu no final de Junho do ano passado era uma nova roupagem para o BIG Festival, evento de games independentes e desenvolvedoras brasileiras que faz parte do guarda-chuva de marcas da Omelete Company há alguns anos - e que teve a oportunidade de “mudar de nome” graças à uma parceria da Omelete com a alemã Koelnmesse, que cuida da versão original do evento Gamescom, conhecido mundialmente por ser o maior evento de jogos eletrônicos do mundo.
Com isso em mente, se vocês chegaram a ler nossa reportagem do ano passado - que está nesse link! - eu odeio afirmar para vocês que eu, como redator de ambas reportagens e como um membro da equipe BansPodNerd que esteve presente no evento como visitante, como gamer e como cosplayer, poderia simplesmente direcioná-los para a reportagem de 2024 e só concluir o texto com “imagina que rolou tudo isso de novo, só que pior!”. Mas, já que sou editor-chefe deste blog, o mínimo que eu deveria fazer é apontar os motivos pelo qual achei que a Gamescom Latam 2025 foi pior que o ano passado.
Não sabendo por onde começar, vou tentar falar primeiro do que foi prometido: o evento anunciou que a área seria o dobro do tamanho do último evento, antes sediado na São Paulo Expo e transferido neste ano para o Distrito Anhembi - do qual, na minha humilde opinião, eu não senti diferença. Talvez, por estar tudo empacotado em um “quarteirão” bem estruturado, senti que o evento parecia até menor que a edição de 2024 e que o espaço para circulação, no geral, estava mais amplo. Eu não posso particularmente apontar isso como um ponto extremamente negativo, pois a locomoção entre os pavilhões - como eu disse - era bem agradável e a distribuição do conteúdo não estava ruim, mas a praça de alimentação que estava bem espalhada e a diagramação do ambiente inteiro nesse quadradão onde você consegue, em menos de uma hora, contorná-lo umas 3 vezes, me fez sentir que o evento estava bem pequeno, sem muito o que se fazer - ou isso, ou tinha tanta gente nas filas para jogar as “novidades” do pavilhão que o Distrito Anhembi pareceu mais espaçoso neste ano.
Falando da praça de alimentação, novamente o preço de tudo estava elevado - o que se tornou um “novo normal” dos eventos e convenções grandes de São Paulo: uma água está 10 reais, um refrigerante está 15, um combo de lanche com batata e bebida em quaisquer quiosques estavam na faixa dos 60 a 70 reais, sendo que consigo comer o dobro de comida com esse mesmo valor em qualquer praça de alimentação de um shopping próximo ao evento (o que eu fiz durante o fim de semana) e as empresas precisam parar com essa mania de aumentar o valor do estacionamento em 10 reais a cada ano, pois 80 reais a diária é mais do que um absurdo - eu tô pagando praticamente o preço de um ingresso passaporte de 4 dias só de estar indo ao evento de carro. Quando o valor de um dia de evento é o mesmo valor de um dia de estacionamento, a gente consegue ver que temos um problema sério em nossas mãos!
Todo o caos desses gastos e eu ainda nem abordei a situação do valor dos ingressos, já que eles não apenas baratearam na medida que o evento se aproximava, como também foram distribuídos ingressos de cortesia para uma boa quantidade de pessoas! A galera da comunidade cosplay disse que houveram muitos problemas tanto com o processo do credenciamento quanto com a distribuição dessas cortesias nas semanas antes do evento, já que muitas ficaram por parte dos cosplayers “sorteados” para o evento - que usufruíram da cortesia para vendê-las por preços ridículos - mas essa bola fora seria apenas a primeira do evento.
Ok, tava tudo caro, teve uma evidente discrepância de preço nos ingressos e o evento parecia pequeno, mas é só isso que tava "ruim"? Não. Muita gente reclamou do serviço da internet e do credenciamento de cosplayers e influencers para essa edição, mas ao público geral que só queria ir lá para jogar videogame e ver as novidades do mercado, o resultado foi bem semelhante ao ano anterior - praticamente sendo a mesma coisa.
O evento ainda é muito focado no BIG Festival e no Panorama Brasil - nada contra, acho sim que esses dois deveriam ser devidamente divulgados por serem essenciais ao mercado nacional - mas a parte de conteúdo internacional das grandes empresas do mercado novamente deixou muito a desejar! Como alguns influencers falaram (até mesmo nosso querido colega César, do canal ReplicanTV), o evento estava recheado de novidades antigas e de pouco espaço para muitas distribuidoras de renome, como a Devolver Digital, a SEGA, a ID XBOX, a Arc System Works e muitas outras (para se ter uma noção, a SEGA só tinha 3 telas para o jogo Demon Slayer: The Hinokami Chronicles 2, e um banner anunciando a existência de Sonic Racing Crossworlds, que ainda não tem data de lançamento).
As desenvolvedoras com uma presença mais relevantes no evento foram Nintendo, Epic Games, Bethesda, Warner Play e Pokémon Company, mas o único “game lançamento” no pavilhão com alguma relevância entre elas era o remaster de The Elders Scroll IV: Oblivion, que já está disponível ao redor do mundo para diversas plataformas! Warner Play trouxe Mortal Kombat 1 e Hogwarts Legacy de novo, Bethesda trouxe Indiana Jones e o Grande Círculo e um vislumbre de Doom: The Dark Ages, Epic trouxe Fortnite e a Nintendo veio novamente com os mesmos jogos pela quinta vez num evento nacional - sendo que a única menção do Nintendo Switch 2 estava em um cartaz ao lado do estande deles. Até mesmo a Pokémon, que prometeu trazer bastante conteúdo para o evento, teve como ponto mais marcante (na minha opinião) um balão inflável do lado de fora do pavilhão.
Com mais um ano de repeteco de jogos e foco no BIG Festival (que também teve jogos repetidos), eu consigo apontar dois problemas essenciais para MINHA experiência com os jogos do evento: primeiro que tudo estava com uma fila enorme - fazendo com que não compensasse gastar no mínimo uma hora de evento para jogar 10 a 15 minutos de um jogo que já está há meses no mercado - e segundo que eu já aproveitei várias dessas “novidades” na edição do ano passado do evento, ou eu simplesmente já os tinha adquirido em casa. Talvez isso mude para os próximos anos, com o iminente aumento do preço dos jogos dentro do mercado brasileiro, mas eu novamente saí do evento com um gostinho de “quero mais” dessas empresas - ou melhor, um gostinho de “esperava mais”.
Mas entre tudo isso, o que realmente me incomodou no evento - não apenas como gamer, mas também como visitante de convenções - é o quanto o evento se “nichou” nesta última edição. Óbvio, o evento é e sempre foi focado em jogos e nos seus desenvolvedores, mas o futuro parecia promissor ao ponto de poder incluir outras novidades envolvendo games, mas direcionada para outros públicos - como a Brasil Game Show geralmente faz com concurso cosplay e apresentações sinfônicas das trilhas sonoras de games clássicos. Entretanto, o resultado dessa feira mostra que a Gamescom Latam, que tinha o potencial de se tornar uma nova CCXP, recaiu em conteúdo em comparação a outros eventos - e não só recaiu em conteúdo, como também recaiu em sua comunicação com o público.
E com isso, eu não posso deixar de falar do evento sem deixar de citar a polêmica da comunidade cosplay e do descaso do evento para com os fotógrafos. Resumindo a ópera, alguns casos particulares da má conduta de pouquíssimos fotógrafos no evento (como a venda de sessões de fotos no pavilhão e uma ameaça de ferir outra pessoa com equipamento profissional) causou no banimento de diversos fotógrafos independentes que estavam no evento sem o acesso da credencial de imprensa. Vistorias invasivas, protestos do lado de fora, vigia constante dos seguranças, mais de duas horas de espera na fila do SAC para resolver essa situação e muitos outros avanços aconteceram com todos os fotógrafos que estavam no evento, que geralmente ficam em espaços sem movimentação tirando fotos de forma independente e muitas vezes gratuita, como divulgação de conteúdo do evento e portfólio para os cosplayers.
Não acho errado a equipe da Omelete optar por resolver o problema na hora, mas certamente havia outras formas de lidar com a situação sem afetar não apenas todos os profissionais da área, como também toda a comunidade cosplay, que já não tinha muito o que fazer no evento. Além disso, é triste ver a problemática da hierarquia do evento com seus influencers, pois apesar dos fotógrafos em questão serem barrados, qualquer um com um celular na mão podia andar livremente no evento fazendo o que bem quisesse, ao ponto de atrapalhar mais na movimentação dentro do pavilhão com suas gincanas e reações forçadas do que os fotógrafos com câmeras profissionais que estavam lá apenas para capturar o espaço na melhor qualidade possível.
Entre toda essa loucura, o evento se conclui com um gosto extremamente amargo na boca - e eu nem abordei o inexistente Artist Alley, as discrepâncias entre os requerimentos no site com a segurança do lado de fora (barrando entrada de garrafinha de água lacrada que estava de acordo com o que foi avisado pela equipe do evento) ou o caso do furto de um equipamento profissional dos desenvolvedores brasileiros dentro do Panorama Brasil.
O evento não mudou nada, e a perspectiva é de que, se você realmente estava lá para ver os queridos influencers de TikTok ou as últimas novidades do mercado, com o objetivo de se aprofundar no desenvolvimento de jogos, então as suas chances de aproveitar o que rolou na Gamescom Latam eram boas. Para o restante, a recomendação para o futuro - além de esperar mais um pouco antes de comprar seus ingressos no primeiro lote e verificar se vocês conseguem adquirir essas cortesias - é colocar na balança para ver se tudo isso vale mesmo a pena.
O resultado na saída foi um ar de incerteza que paira no meio da comunidade, já que a mesma equipe da Gamescom Latam cuida da CCXP e, desde o ano passado, também tem o nosso “querido” Anime Friends no seu catálogo de eventos, uma convenção que - apesar dos solavancos no meio do caminho - sempre se importou muito com sua fanbase. Será que esse é o termômetro do que esperar para o restante do ano, ou daqui pra frente não tem como ficar pior?
Por fim, uma coisa meio que ficou evidente para muitos de nós: tem uma mancha bem grande no logo da Gamescom Latam, e não foram só os fotógrafos que conseguiram capturar essa imagem.
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