A animação e a alegria dos fãs da Marvel certamente foi perceptível depois do primeiro trailer de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, que aconteceu ontem (dia 4 de Fevereiro), mostrando ao mundo o que o futuro nos aguarda para a nova versão da primeira família da Marvel Comics. Entretanto, o que poucas pessoas parecem não ter percebido até então, é que o filme chegará com uma incrível conquista em suas costas ao marcar uma data importante para o legado dos heróis: os 20 anos de sua chegada às telas de cinema!
O filme estrelado por Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach chega no dia 25 de Julho de 2025, um pouco mais de 20 anos depois do primeiro filme dos heróis, que foi lançado no dia 8 de Julho de 2005! O filme Quarteto Fantástico da 20th Century Fox, dirigido por Tim Story (Shaft; Tom & Jerry: O Filme [2021]) trás a equipe passando pela sua origem, culminando em um confronto final contra o Doutor Destino. O elenco é composto por Ioan Gruffudd (Forever: Uma Vida Eterna; Harrow; Bad Boys: Até o Fim) como Reed Richards / Senhor Incrível, Jessica Alba (Sin City: A Dama Fatal; Machete; Alerta de Risco) como Sue Storm / Mulher Invisível, Chris Evans (Capitão América: O Primeiro Vingador; Operação Natal; Scott Pilgrim Contra o Mundo; Lightyear) como Johnny Storm / Tocha Humana, Michael Chiklis (The Shield: Acima da Lei; The Senior; Não Olhe para Cima) como Ben Grimm / O Coisa e Julian McMahon (O Surfista; FBI: Most Wanted; The Runwayaws) como Victor Von Doom / Doutor Destino.
É engraçado de se comparar o escopo do primeiro filme da equipe com as possibilidades que eles podem alcançar com Primeiros Passos, demonstrando em seu primeiro trailer uma união familiar muito mais concreta e elaborada do que a produção de 2005, que se porta como uma tentativa “aceitável” de trazer a equipe para os cinemas - ao menos, para a época de seu lançamento. Mas apesar do filme de Tim Story ser uma versão competente, será que ela ainda vale como algo bom a ser lembrado, como um legado digno da história dos heróis?
Ao revisitar a obra, pode-se ver o quanto do conteúdo é tratado de forma corrida e direta, com toda a missão espacial se passando em pouquíssimos minutos de filme e a batalha final do quarteto contra Destino somando apenas uns 5 minutos da sua conclusão. E aí vocês me perguntam: o que se passa no restante desta uma hora e meia de filme, se os pontos essenciais da trama do quarteto são retratados de forma tão direta? A resposta é uma leve “encheção de saco” com todos os estereótipos desgastados de filmes do começo dos anos 2000, cada um deles sendo desenvolvido por um personagem.
Neste filme, Johnny vira o playboyzão (ou o valentão da história, para Ben Grimm) que é adorado por todos e não tá nem aí pra vida - e nunca recebe um “sacode” necessário para amadurecer; Victor passa pela mesma jornada de Norman Osborn / Duende Verde no primeiro filme do Homem-Aranha, de 2002 - do magnata prestes a perder tudo, mas que aceita ser um Deus assim que recebe poderes, destruindo “todos aqueles que zombaram dele” - mas passa por essa narrativa de forma fraca e passiva, nem chegando aos pés da interpretação de Willem Dafoe; Reed é totalmente o protagonista da história, sendo o “cara bonzinho que sempre se dá mal, mas consegue tudo no final graças ao roteiro”, minimizando muito os seus momentos como uma das mentes mais brilhantes de todas; e Sue, infelizmente, se torna “a garota” do filme, sendo muitas vezes retratada - de forma bem sexualizada - como “o prêmio”, ou “a conquista” que o protagonista consegue ao derrotar o vilão, nunca chegando ao ponto de ser “a princesa em perigo”, mas também nunca se tornando algo além da “ex-namorada que ainda tem uma quedinha pelo protagonista”, ou “a irmã responsável com um irmão caçula e irresponsável”.
Por sorte, o roteiro consegue retratar muito bem - de certa forma - o enredo do personagem de Chiklis. Ben Grimm pode até começar como o ajudante do protagonista, mas assim que ele "veste sua roupa de pedra" - que aliás, eu vou defender até os confins da Terra, porque ela é excelente como uma versão prática e física do personagem ainda hoje - e vira "O Coisa", sua jornada é a melhor parte do filme, principalmente - e infelizmente - pela sua caracterização como o homem que virou um monstro, o ser marginalizado que assusta todo mundo. Esse começo da jornada do Coisa é essencial para o personagem, mas a forma como tudo é resolvido no final é bem rasa e banal, com Ben aceitando voltar a ser O Coisa para salvar Reed, o que pode ser alinhado com um amigo querendo ajudar o outro, mas parece muito mais um personagem secundário se sacrificando para ajudar o protagonista.
E isso é o que mais incomoda na história, essa questão de termos a história em si enraizada no Reed Richards, muito voltada à base da “jornada do herói”: ele sai numa aventura (a viagem espacial) em busca de algo maior (ser reconhecido como um excelente cientista, conquistar Sue), recebe o desafio (os poderes) que deve ser enfrentado no decorrer da jornada (achar a cura), mudando completamente suas vidas e passando por uma última prova (a batalha contra Destino) para retornar ao lar como uma nova pessoa (conseguiu conquistar a Sue, é reconhecido como um herói e aceitou seus poderes). Esse tipo de narrativa - da qual já vimos dar certo diversas vezes, como no próprio Homem-Aranha de 2002 - não funciona tão bem no Quarteto, especialmente se apenas um dos membros da equipe passar pelo processo.
O Quarteto Fantástico é uma equipe - e mais do que isso, uma família extremamente unida, que se apoia e enfrenta as adversidades da vida juntos! Em nenhum momento isso acontece no filme de 2005. Reed tem sua jornada e Ben (meio que) aceita quem ele é, enquanto Johnny não muda absolutamente nada e Sue nem poderia ser considerada uma personagem, descaracterizando não apenas ela mesma, mas também o grupo inteiro, servindo como a última gota d’água que quebra o filme: só me parece um bando de pessoas que estão com um problema e se ajudam no final, virando uma “equipe” - mas nunca uma família.
Reed não é uma figura paterna, ele é o protagonista; Sue não é uma figura materna, ela é uma garota de capa de revista; Ben não é a cola que gruda todos eles, ele é o amigo do protagonista, com um problema que não incomoda mais ele; Johnny não é o caçula imprudente com um coração de ouro, ele é um zé ruela de 15 anos (o que se alinha com seu personagem em Deadpool & Wolverine); O Quarteto não é uma família composta por pessoas extremamente inteligentes que suportam umas às outras, ele é um grupo de profissionais altamente competentes que passaram por um problema em escala municipal e agora estão juntos para “manter a equipe”, como se fossem colegas de trabalho.
E o pior é que, mesmo percebendo como boa parte dos problemas estão enraizado nos estereótipos do roteiro da década de 2000, nem isso serve como desculpa - principalmente quando tivemos o lançamento de Homem-Aranha 2 um ano antes e de Batman Begins um mês antes, duas excelentes adaptações de personagens de quadrinhos que são adorados pela crítica e não sofrem com necessidades de se adaptar tanto aos modismos da época. Quer saber o que é ainda pior? A animação da Pixar Os Incríveis, que é “praticamente” o Quarteto Fantástico em versão animada, foi lançada em Dezembro de 2004, quase 7 meses antes deste filme, e conseguiu fazer um trabalho 10 vezes melhor - ela até ganhou um Oscar, pelo amor de Deus!!
Portanto, respondendo minha pergunta no começo do texto, não temos como aceitar que o filme de 2005 seja algo estritamente positivo para o legado do Quarteto Fantástico - mesmo que seja um filme divertido e nostálgico para aqueles que cresceram com essa versão dos personagens. Tendo em mente essa conclusão e sabendo que podia ser pior - e foi, com o lançamento de Quarteto Fantástico de 2015, que apesar de não ter os mesmos problemas, conseguiu ser mais odiado do que o anterior - , só nos falta esperar por mais novidades do próximo filme do MCU, rezando para que esse próximo “primeiro passo” seja em uma direção digna da família mais importante da Marvel.
QUARTETO FANTÁSTICO de 2005 está disponível na Disney Plus;
QUARTETO FANTÁSTICO de 2015 está disponível na Disney Plus;
QUARTETO FANTÁSTICO: PRIMEIROS PASSOS será lançado no dia 25 de Julho, nos cinemas.
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