DE VOLTA PARA O FUTURO: 40 anos depois, filme ainda é uma obra prima do cinema!

Poster original do filme De Volta Para o Futuro - Divulgação / Universal Pictures

Hoje, dia 21 de Outubro, é a principal data selecionada pela fanbase da trilogia de filmes De Volta Para o Futuro para celebrar a longevidade da franquia. Sendo conhecido como Back to the Future Day, este também é o dia exato em que os personagens Dr. Emmett L. Brown (Christopher Lloyd), Marty McFly (Michael J. Fox) e Jennifer Parker (Claudia Wells) chegam ao futuro previsto em 2015. Resumindo para quem não se lembram (ou não viram os filmes, o que eu acho um ultraje), no começo do filme De Volta Para o Futuro Parte 2, o Doutor Brown “captura” Marty e sua namorada Jennifer e partem juntos em uma missão para salvar seu futuro filho, Marty McFly Jr., de ser injustamente preso num roubo orquestrado por Griff Tannen, futuro neto do antagonista Biff Tannen (Thomas F. Wilson). 


Um momento tão singelo na cronologia complexa dos filmes causa uma sequência de acontecimentos bagunçados que destroem toda a linha temporal e nos prepara para o restante da trilogia, mas o principal impacto neste início de filme foram as “apostas” que o diretor Robert Zemeckis e o roteirista Bob Gale realizaram perante as tecnologias que nos aguardavam no futuro, como um sistema meteorológico extremamente preciso, inteligências artificiais como atendentes de restaurantes, roupas que se secam sozinhas, um sistema judiciário rápido e direto, comidas que são reaquecidas em segundos - e claro, o tão esperado hoverboard (ou "pranchas flutuantes").


Mas não vamos ponderar muito sobre este aspecto dos filmes, e nem mencionar as pouquíssimas novidades que tivemos sobre a franquia nestes últimos quarenta anos. O objetivo desta redação é vangloriar o quão importante e impressionante o primeiro filme ainda é, mesmo sendo lançado em 1985 e possuindo diversas perspectivas sociais datadas (até mesmo para a época do filme, como os assédios do Biff e o escopo das coisas que Marty teve de fazer para reunir seus pais novamente - tipo aterrorizar seu pai com uma “invasão domiciliar alienígena” ou “acidentalmente” ter beijado a sua mãe).


Logo oficial do filme De Volta Para o Futuro - Divulgação / Universal Pictures

O primeiro filme (com cerca de 1 hora e 50 minutos de duração) conta a história de Marty McFly, um adolescente de 17 anos que mora no subúrbio da cidade de Hill Valley, na Califórnia. Marty busca viver uma vida “descolada” enquanto tenta não repetir os "erros" de seus pais - mas quando ele é convocado pelo seu amigo, o Dr. Brown, para auxiliar no primeiro teste de sua nova invenção, uma catástrofe acontece e o garoto se vê forçado a participar de uma aventura pelo tempo. Sendo transportado há 30 anos no passado e acidentalmente impedindo o primeiro encontro de seus pais, Marty pede ajuda da versão mais jovem do Doutor para retornar ao futuro - enquanto serve de cupido para consertar o relacionamento entre os pais jovens e pensa em formas de evitar a catástrofe que iniciou toda a sua jornada. 


No decorrer de quase 2 horas, podemos ver que o enredo do filme é bem simples, usufruindo da premissa de viagem temporal para trazer uma “Jornada do Herói” em Marty, numa aventura onde a principal mensagem é a compreensão das nossas conexões familiares, a forma como as ações mais banais podem trazer consequências duradouras para todos e que, no final das contas, somos nós quem podemos moldar o nosso próprio futuro a partir das nossas escolhas. Mesmo com a simplicidade da narrativa (especialmente para os tempos atuais), o primeiro filme da trilogia aponta temáticas importantes na vida de qualquer adolescente - é uma maestria de construção cronológica e de conexões metalinguísticas dentro de um roteiro bem fechado! 


Desde o primeiro minuto você já consegue realizar diversas analogias e conexões com outros momentos que acontecerão no decorrer do longa-metragem, tipo a caixa de plutônio roubado embaixo da cama do Doutor Brown, os paralelos entre a insegurança criativa de Marty com a do seu pai, George (Crispin Glover), o nome do ator Ronald Reagan nos letreiros de cinema em 1955 (sendo que ele é o presidente dos Estados Unidos no futuro), os sermões de Lorraine (Lea Thompson) que são logo refutados na sua versão do passado, o panfleto da torre do relógio que se transforma de um bilhete amoroso para a chave central do enredo e também a transformação temporal do Shopping do Pinheiro Solitário, antes chamado de Pinheiros Gêmeos e que só foi alterado pelas desavenças de Marty ao chegar no passado.


Imagem oficial do filme De Volta Para o Futuro, mostrando Dr. Brown (direita) e Marty McFly (esquerda) junto do DeLorean DMC-12 - Divulgação / Universal Pictures

Momentos como estes mostram que Gale construiu um enredo direto e simples que constantemente fazia referências à si próprio, incentivando você a assistir ao filme mais vezes para compreender o quanto tudo aquilo está conectado - e Zemeckis usufruiu de sua maestria na direção para que possamos prestar mais atenção em cada cena capturada sem perder nenhum momento deste universo tão normal, mas extremamente elaborado. 


A casa bagunçada do Doutor Brown, a moradia simples dos McFly, a fachada do colégio de Hill Valley, até a própria praça central da cidade está recheada de vida e de detalhes minuciosos tanto em 1985 quando em 1955, o que te força a compreender o escopo do que a equipe de produção teve que realizar para capturar (em pouquíssimos frames) tudo o que a ambientação do passado e do presente poderiam proporcionar. E a complexidade não fica apenas por cargo da filmagem e do cenário, mas também na edição do filme - que consegue manejar momentos necessários de explicações detalhadas e longas com respiros sinceros do cotidiano americano da década de 50. 


Mesmo assim, algo que vejo como extremamente especial é a edição da própria trilha sonora dentro do filme! Poucas pessoas notam isso, mas os primeiros 20 minutos do longa-metragem possuem diversos efeitos sonoros diegéticos (sons que se passam exclusivamente dentro do universo do filme), e a única música que escutamos é The Power of Love, da banda Huey Lewis and The News em três momentos essenciais: quando Marty está indo de skate para a escola, durante o teste musical com a sua banda e quando ele beija Jennifer na frente da torre do relógio.


Cena em inglês do filme De Volta Para o Futuro, mostrando primeira viagem temporal do DeLorean DMC-12 - Reprodução / Youtube / Universal Pictures

No início do filme, só escutamos música quando Marty está fazendo algo que lhe deixa feliz ou que quebre sua rotina de jovem da classe média dos anos 80, e a trilha sonora do filme (composta por Alan Silvestri) só entra na narrativa quando vemos a máquina do tempo pela primeira vez. A própria música tema do filme só aparece aos 31 minutos, quando Marty consegue finalmente entrar no DeLorean, escapando dos terroristas líbios - e consequentemente, começando sua viagem pelo tempo! Portanto, mesmo aparecendo em poucos momentos, a edição usa a trilha sonora de Silvestri de forma que ela amplie a intensidade das cenas mais impactantes do filme, transformando sua ausência em algo imperceptível e sua presença em algo extremamente cativante.


E claro, não dá para terminar um texto de apreciação à De Volta Para o Futuro sem falar do elenco de peso que compôs o filme: é crível ver as interpretações de Lea Thompson e de Crispin Glover como os pais do Marty, e você consegue ficar facilmente cativado por suas versões mais jovens; Thomas F. Wilson é um excelente antagonista, conseguindo emanar do espectador toda a raiva necessária para devidamente odiarmos todas as versões de Biff Tannen; Claudia Wells não aparece tanto no longa (e suas participações no decorrer da trilogia deixam a desejar), mas ela ainda possui uma presença reconfortante na narrativa de Marty - que é melhor trabalhada em outros projetos futuros da franquia, como Back To The Future: The Game.


Mas é inegável que Michael J. Fox e Christopher Lloyd dominam o filme (e eu não serei nem o primeiro e nem o último a dizer isso, mas graças a Deus que eles demitiram o Eric Stoltz, porque Marty McFly foi feito para ser Fox do começo ao fim!). Os protagonistas fazem o filme ser o que ele se tornou essencialmente por conta de suas atuações nesta amizade inesperada entre cientista maluco e adolescente punk rock - e isso é mostrado em cada interação que a dupla possui em cena.


Recorte de cena do filme De Volta Para o Futuro, com Christopher Lloyd (direita) e Michael J. Fox (esquerda) - Divulgação / Universal Pictures 

Também vejo necessário comentar o carinho que os personagens têm um pelo outro, produzindo uma amizade extremamente saudável onde Marty perambula naturalmente pelos aposentos do Doutor; onde o Doutor fica falando várias baboseiras científicas que são palatáveis para que Marty (e o espectador) entenda a gravidade da situação; onde Marty possui uma preocupação genuína com o cachorro Einstein como se ele também fosse seu dono; onde o Doutor fica animado com uma descoberta e imediatamente volta sua atenção ao perigo iminente da existência de Marty em 1955, entre outros momentos. 


Mesmo com o dilema principal sendo focado no relacionamento de George e de Lorraine, o filme não deixa de retratar a trama narrativa de retorno ao futuro enraizada na amizade entre os dois, onde vemos Marty emanar afeição, cuidado e preocupação pela vida do Doutor e a sua segurança no futuro e, paralelamente, vemos o Doutor expressando felicidade, euforia e realização perante o trabalho de sua vida, onde ele vê o futuro com mais esperança, com ansiedade e vontade de aproveitar tudo o que os próximos 30 anos irão lhe proporcionar - incluindo seu primeiro contato com Marty no futuro e a construção de sua amizade.


Usufruir de tantas ferramentas da linguagem cinematográfica fez com que um simples filme de viagem temporal envolvendo dilemas familiares mudasse a vida de todos os envolvidos, trazendo duas continuações inesperadas e muita celebração para Zemeckis, Gale, Fox, Lloyd e todos os demais viajantes temporais que esta trilogia criou.


Se pudesse, ficaria horas aqui, escrevendo e analisando mais detalhes deste marco no cinema de ficção científica, mas o texto está longo e vocês já devem estar cansados de ler tudo isso. A minha única recomendação hoje é para que vocês aproveitem 2 horinhas do dia para relaxar, sentar na poltrona, e quem sabe, assistir ao filme em celebração do legado que ele alcançou na cultura pop mundial e na cultura geek moderna.


Cena dublada do filme De Volta Para o Futuro Parte 2, mostrando data de chegada ao ano de 2015 - Reprodução / Youtube / Universal Pictures / @jrmartins10

A trilogia DE VOLTA PARA O FUTURO está disponível para compra nas plataformas Prime Video, Apple TV Plus e Globoplay.


Por fim, deixamos vocês neste dia com duas mensagens inspiradoras do Dr. Emmett L. Brown: “Se você usar a mente, pode conseguir qualquer coisa” e “...o seu futuro ainda não foi escrito. Nem o de ninguém. O seu futuro é o que você fizer dele. Então façam-o bem!”

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