ATENÇÃO: SPOILERS DE SUPERMAN (DC STUDIOS, 2025)
Sim, foi o que vocês leram: entre tantos filmes blockbusters modernos que buscam adaptar os universos compartilhados dos quadrinhos americanos em grandiosas aventuras live-action com muito CGI e espetáculo audiovisual proveniente da mídia cinematográfica, eu acredito que pouquíssimas produções teriam a chance de serem desenvolvidas em outras mídias com um aspecto tão envolvente quanto nas salas de cinema - e um número muito seleto dessas adaptações teriam algum tipo de sucesso ao serem transportadas novamente às clássicas páginas coloridas, tentando fornecer algum tipo de relevância ao mercado saturado das HQs.
Por bem ou por mal, Superman, filme do novo DC Studios de James Gunn e que acabou de estrear nos cinemas, não apenas é uma dessas poucas exceções, como deveria receber essa adaptação midiática e artística de imediato. O filme, que busca iniciar um novo universo cinematográfico para a Warner Bros. Discovery e as propriedades intelectuais da DC Comics, tenta trazer uma nova versão do alienígena kryptoniano ao século 21, mas esta “nova versão” opta por ser a menos distinta possível do personagem, capturando uma interpretação idêntica às melhores narrativas do herói.
David Corenswet abraça o personagem de forma natural e extremamente humanizada, focando muito mais no papel de Clark Kent para com a imagem de Superman - ressignificando tanto sua esperança na linhagem kryptoniana quanto o seu amor e sua verdadeira força como um simples garoto do Kansas que curte músicas de punk rock. Assim como Corenswet se encaixou perfeitamente no Superman, Nicholas Hoult traz um Lex Luthor perfeito, que entra em cena para fazer o que faz de melhor: ser um vilão sério e clássico de quadrinhos com um objetivo muito claro em mente e sem poupar recursos para alcançá-lo. Hoult te convence que Luthor não é mais um daqueles vilões que são, no fundo, “personagens mal-compreendidos” - como temos visto nos últimos anos do cinema americano - e aqueles que saírem do cinema com qualquer tipo de simpatia por este bilionário certamente errou na interpretação de texto. E falando em interpretação, não dá para falar desse elenco principal sem destacar devidamente a maravilhosa Rachel Brosnahan, que perfeitamente contracena como a Lois Lane ideal para esse “novo” Clark Kent: sem “papas na língua” e disposta a lutar pela verdade em prol do bem maior - e lutar também contra suas inseguranças no seu recém-estabelecido relacionamento amoroso.
Gunn acertou em cheio com o trio principal da narrativa, mas todos os personagens do longa (seja qual for o seu tempo de tela) são apresentados de forma extremamente caricata e fiel ao universo pré-estabelecido da DC e dos últimos 87 anos de Super-Homem. Dou destaque para as atuações de Sara Sampaio (que trouxe uma adaptação excelente e muito inteligente de Eve Teschmacher), Skyler Gisondo (que serviu bastante como alívio cômico no papel de Jimmy Olsen - mas poderia ter mais momentos de amizade com Clark), Anthony Carrigan (vivendo uma versão maravilhosa e profundamente sensível do Metamorfo), Nathan Fillion (que apesar de fazer pouco, é inquestionavelmente cativante como Guy Gardner), María Gabriela de Faría (a implacável Engenheira, que será trabalhada ainda mais em projetos futuros), Neva Howell e Pruitt Taylor Vince (sendo a melhor interpretação da família Kent em praticamente todo o multiverso audiovisual da DC), mas certamente quem rouba a cena do elenco adicional é Edi Gathegi no papel de Senhor Incrível, e da melhor forma possível - podendo ser até considerado com parte do elenco principal pela sua relevância na aventura.
Todo o elenco do filme serviu para trazer os personagens à vida diretamente dos quadrinhos - mas Gunn conseguiu ir além ao trazer vida diretamente AOS quadrinhos de uma forma nada menos do que magnífica: Cada cena, cada corte, e cada ângulo de câmera, auxiliado de um visual devidamente saturado de cores vibrantes, cidades realistas e universos inimagináveis, gera uma estética que há muito parece ter se perdido das adaptações mais recentes da Marvel Studios, trazendo uma simplicidade à loucura exacerbada de prisões em universos paralelos, países fictícios em guerra, monstros gigantes cuspidores de fogo, construtos verdes e transparentes, tecnologias impossíveis e sem explicações, cachorros de computação gráfica e heróis voadores com uma cuequinha vermelha por cima das calças, deixando tudo tão real, tão crível, tão tangível - e ao mesmo tempo, tão fantástico, tão majestoso e tão artisticamente semelhante à qualquer quadrinho da aclamada “era de prata”.
Em todos esses pontos analisados, o filme serve como digno competidor para as animações do Aranhaverso em aspecto de adaptação de quadrinho para os cinemas - seja em questão da ambientação deste universo, em questão da trilha-sonora nostálgica e única, ou em questão de seus personagem em tela. Entretanto, o filme tem seus contratempos que lhe deixam, no mínimo, bagunçado - ao ponto de dividir (um pouco) a opinião dos fãs.
De acordo com os dados de sites como Rotten Tomatoes e IMDb, o filme teve sucesso em mostrar para todos, seja críticos ou público-geral, quem Super-Homem (e consequentemente, Clark Kent) realmente é, preparando um excelente terreno para o futuro da DC nos cinemas, mas muitas opiniões divisórias entre os fãs apontam que o filme pode ser uma “nota 10” ou, no mínimo, uma “nota 7” recheada de escolhas narrativas caóticas e feitas para preencher diversas histórias que necessariamente não serão avançadas dentro do DCU.
Tem coisas que não são explicadas? Sim, muitas; Parece que a gente está sendo jogado no meio do universo sem sentido? Sim, e isso é muito bom; Alguns personagens poderiam ter sido apresentados de forma mais detalhada? Certamente, mas a galera não vai perder a noção do todo por conta disso; Então, o problema fica aonde? Particularmente, acho que no miolo do filme e na progressão geral dos fatores, onde James Gunn poderia ter reajustado alguma parte da história para não ficar tão evidente o pula-pula entre acontecimentos repentinos - ou melhor, ele poderia ter dado mais uma hora de filme para destrinchar ainda mais essas ideias maravilhosas que ele teve.
Tentando não bagunçar mais o que já está bagunçado, eu aponto que consigo muito bem ver e compreender a cronologia de eventos que gerou o principal conflito entre Superman e Luthor no decorrer do filme, mas mesmo com isso sendo tão visível, a principal crítica vem da leve exaustão desta rápida sequência de acontecimentos distintos - como se o universo estivesse realmente vivo e cheio de diversos pontos focais no decorrer de uma única narrativa, mas sem um simples respiro entre tudo.
Talvez esse tenha sido o objetivo desde o começo para Gunn: criar uma narrativa tão clássica e moderna, tão pessoal e abrangente, mostrando na pele o quão caótico e conturbado pode ser alguns dias na vida do maior herói do mundo, mas mesmo da forma mastigada que o filme graciosamente se encontra, o resultado ainda pode ficar amontoado demais, dependendo do fã - o que poderia ser melhor trabalhado se o espectador tivesse o seu próprio tempo para consumir tudo, como ler uma história em quadrinhos na sua velocidade desejada.
Por isso eu sinto que esse filme (além do que ele já se tornou) precisa ser o que ele sempre foi e sempre será: uma excelente história em quadrinhos! A equipe da DC Comics conseguiria fazer uma baita graphic novel recontando a trama do filme com ilustrações dos maiores artistas da atualidade, seguindo o mesmo enquadramento de todas as cenas do filme - e até adicionando uma página ou outra para destrinchar alguns momentos impactantes que Gunn tanto nos forneceu neste longa. Ainda assim, a narrativa geral e todos os demais pontos positivos que foram mencionados acima só nos mostra que esse primeiro passo do DCU - apesar de não ser tão firme quanto esperávamos - foi dado na direção certa, e mais alguns desses podem fazer com que esse universo voe mais alto do que até o próprio MCU.
Graças a Deus o filme não tem os “maneirismos” das piadas de Gunn como seu maior inimigo, já que elas aparecem de forma tão natural e fracionada pela aventura que se tornam extremamente palatáveis aos fanboys do extinto “Snyderverso” (talvez a parte que mais sofra com isso seja nas cenas pós-créditos). E sim, Krypto é fofo do começo ao fim, merecendo uma tigela cheia de super-ração pelo bom trabalho que ele fez (mesmo que ele não tenha sido um “bom garoto” 100% das vezes).
SUPERMAN já está em cartaz, nos cinemas!
E vocês, o que acharam de Superman? James Gunn acertou em cheio em todos os aspectos do filme? Sentiram que a narrativa precisava de mais tempo para ser apresentada? Gostaríamos de saber o que vocês acharam do nosso conteúdo, então deixe seus comentários abaixo! Não se esqueça de acompanhar o restante do nosso conteúdo do blog!
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